O ritmo do mercado automotivo desacelerou a partir de 2020, em função dos reflexos da pandemia de Covid-19 na economia. O problema vai além da queda de poder aquisitivo do consumidor, o que de fato marcou a baixa histórica na venda de automóveis do Brasil, cujo PIB alcançou a maior retração dos últimos 20 anos (-4,06% na variação do real em 2020), de acordo com dados do Data OLX Autos. A escassez de semicondutores e outros insumos para fabricação de novos veículos é, atualmente, o grande desafio do setor automotivo.
A falta de semicondutores se agrava e compromete a produção de automóveis. Em 2021, a demanda ultrapassou a oferta, pois a taxa de desemprego caiu com o retorno das atividades presenciais, mas a indústria automotiva não conseguiu atender à demanda, gerando elevação dos preços dos automóveis, tanto dos novos quanto dos carros usados.
O efeito dominó que o isolamento social causou no mercado brasileiro começou com a alta demanda de aparelhos eletrônicos: a modalidade de trabalho remoto resultou em grande procura por computadores, tablets e celulares. Além disso, a preferência de deslocamento por carros particulares, a fim de manter o distanciamento social, também elevou a demanda de veículos leves.
Todos esses produtos têm sistemas eletrônicos que funcionam à base de semicondutores, componentes cuja produção foi afetada pela pandemia, uma vez que muitas fábricas tiveram que suspender suas atividades durante o auge da doença. A vacinação da população foi acompanhada pela recuperação da economia em muitos países, no entanto, o setor produtivo não acompanhou o mesmo ritmo, de maneira que o fornecimento de chips semicondutores automotivos foi gravemente afetado.
A pior fase já passou. Aos poucos é possível perceber os esforços dos fornecedores em atender às demandas de insumos. De toda forma, a crise dos semicondutores criou um problema estrutural na cadeia de automóveis, que ainda precisará de alguns anos para ser superado, conforme avaliou Arno Antlitz, chefe financeiro da Volkswagen.
O que são semicondutores e sua aplicação em automóveis
Semicondutores são materiais que podem tanto conduzir quanto isolar corrente elétrica. Essa característica atômica de substâncias como silício, selênio e germânio faz com que sejam importantes nos circuitos elétricos, que precisam tanto de componentes com resistência elétrica quanto daqueles que facilitam a passagem da corrente. Os semicondutores estão entre isolantes e condutores, em condição de condutividade intermediária, e, atualmente, fazem parte de todos os dispositivos eletrônicos.
O desenvolvimento da área da elétrica permitiu manipular esses materiais, que se comportam de maneira diferente se submetidos a mudanças de temperatura ou se adicionadas impurezas pelo processo de dopagem. Assim, é possível direcionar a passagem de corrente elétrica por meio de alterações na valência das substâncias, o que resulta na fabricação de semicondutores automotivos.
Há três tipos principais de semicondutores: os transistores, os circuitos e os diodos.
- Os semicondutores transistores têm a capacidade de alterar o sinal elétrico de entrada, transformando-o de maneira a produzir uma energia diferente de saída. Um componente comum em rádios, lâmpadas e relógios. Funcionam como amplificadores ou interruptores.
- Os circuitos são os chips semicondutores, em que as substâncias ficam dispostas em uma lâmina capaz de interferir em diversos funcionamentos de um único sistema. Sua aplicabilidade é importante em computadores, celulares e carros.
- Os semicondutores diodos possibilitam a condução de corrente elétrica em sentido único, transformando tensão alternada em contínua. São muito usados em sistemas de energia solar, para gerar eletricidade, assim como em lâmpadas de LED, para emissão de luz.
Pode-se notar que todos os três tipos de semicondutores têm sua aplicabilidade em automóveis, ainda que os chips semicondutores recebam maior importância nas novas tecnologias automotivas que priorizam sistemas eletrônicos em detrimento dos mecânicos.
Para que servem os semicondutores em carros?
Os chips semicondutores de carros têm diversas aplicações, tanto nos modelos mais antigos quanto nos novos. De toda forma, os veículos modernos, com tecnologias digitais avançadas, exigem uma quantidade maior desses dispositivos em seus sistemas.
Alguns dos sistemas integrados automotivos que utilizam semicondutores são:
- central multimídia;
- conectividade;
- painel de instrumentos digital;
- direção eletrônica;
- travas elétricas;
- faróis de LED;
- controle de tração;
- controle de estabilidade;
- assistentes de condução;
- transmissão (motor e câmbio);
- chave presencial.
Dessa forma, os dispositivos semicondutores fazem parte dos sistemas integrados de um carro, assim como das tecnologias de automação. Automóveis que exigem uma estrutura técnica mais sofisticada, com wi-fi nativo, projeção de celulares, entre outras tecnologias, podem demandar cerca de 1.000 semicondutores em sua arquitetura elétrica.
Sistemas avançados de segurança e de conectividade são os que mais empregam esses dispositivos, de maneira que a produção de veículos mais tecnológicos é a mais afetada pelos semicondutores em falta no mercado.
Crise de semicondutores paralisa fábricas de automóveis no Brasil
Com os fabricantes de semicondutores sem capacidade para atender a demandas dos diversos setores, a produção de carros novos foi gravemente prejudicada. Um levantamento da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) contabilizou 16 paralisações de fábricas automotivas em 2022.
Em maio, a Volkswagen deu férias coletivas de 20 dias para os funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo, devido à falta de semicondutores no Brasil. Esse é só um exemplo de como as montadoras estão lidando com o problema. A Chevrolet, por outro lado, anunciou aplicação de descontos nos modelos que serão produzidos sem algumas funcionalidades que exigem o uso do componente.
Modelos de carros Chevrolet, como o Onix, tiveram a produção suspensa por cinco meses no Brasil pela irregularidade de fornecimento das fábricas de semicondutores. A estimativa da AFS (Auto Forecast Solutions) é de que a falta de chips semicondutores impediu a fabricação de 2,2 milhões de automóveis no mundo todo em 2022, um resultado superior ao estimado em janeiro (1,25 milhão de veículos).
Mais de 400 fábricas em diferentes países tiveram suas produções prejudicadas de alguma maneira. A Audi parou de oferecer chaves reservas presenciais, a Volkswagen está entregando ao mercado o Fox sem a central multimídia, a Toyota trocou a central multimídia do Corolla por uma paralela, mais simples e sem as funcionalidades do Android Auto e Carplay.
Esses são alguns reflexos da crise dos chips semicondutores automotivos no Brasil, que colocam as montadoras em situação de gestão de risco, tendo que optar por paralisar as fabricações ou reduzir o nível tecnológico dos veículos.
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Crise de semicondutores: quando acaba?
As maiores fabricantes de semicondutores no mundo estão trabalhando para reverter a crise de fornecimento. A falta de semicondutores em 2022 tende a diminuir nos últimos meses do ano. No entanto, o problema no setor automotivo se tornou estrutural, e a paralisação de fábricas ou a redução de turnos continuará a ser uma realidade por pelo menos mais dois anos.
Isso acontece porque a demanda por automóveis com sistemas autônomos e tecnologias de conectividade é crescente, de maneira que as fabricantes de chips semicondutores de carros não conseguirão atender à totalidade do fornecimento em 2023. O cenário conduz a uma desvalorização dos automóveis, na tentativa de equilibrar oferta e demanda e de atender o público consumidor, ainda que oferecendo automóveis menos sofisticados.
Ainda assim, fábricas de semicondutores estão desenvolvendo novas tecnologias, para atender à necessidade dos sistemas eletrônicos nos automóveis das próximas gerações. A Samsung firmou parceria com a VW, fornecendo novos chips destinados às centrais multimídia.
O dispositivo Exynos Auto, da Samsung Eletronics, entrega respostas mais rápidas e suporta uma quantidade maior de sistemas integrados, especificamente para aplicação automotiva. Esses chips semicondutores já fazem parte de alguns modelos novos da VW, mas a Samsung visa desenvolver chips ainda mais avançados, de maneira a estender sua aplicação para mais modelos de veículos elétricos e com sistemas autônomos.
A alta capacidade de processamento dos novos chips semicondutores permite que várias aplicações funcionem ao mesmo tempo, em grande velocidade, entre câmeras, telas e sistemas de segurança.
Assim, apesar da crise de semicondutores que afeta a produção de carros atualmente, o desenvolvimento tecnológico segue confiante, a fim de alcançar maior eficiência, oferecendo uma experiência de mobilidade diferenciada nos automóveis do futuro.
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