Minha chegada em Amsterdã para acompanhar o AutosBuzz, conferência global dedicada ao comércio digital automotivo, já causou impacto logo que desci do avião. A mobilidade urbana na capital holandesa é tão diferente do que estamos acostumados que me fez refletir sobre minhas próprias escolhas.
A cidade é bastante plana, privilegiando o uso de bicicletas e as caminhadas. No transporte público existem muitos ônibus elétricos com fiação, daqueles antigos, que oferecem um curioso contraponto com a modernidade de carros e bikes elétricos que convivem harmoniosamente nas ruas.
Modais elétricos, inclusive, são hoje uma pauta importante no setor automotivo. Considerados mais ecológicos, eles atendem não só às recomendações globais de ESG, mas também à preocupação da sociedade com a emergência climática.
Já sabemos que o processo de descarbonização vai exigir adaptações no cenário urbano, com a implantação de pontos de carregamento, e também nos argumentos de venda da indústria automotiva.
O que talvez nem todos saibam, no entanto, é que essa transição será ainda mais ampla do que imaginávamos, podendo transformar até mesmo o comportamento de compra de automóveis, que deverá se tornar não apenas mais elétrico, mas também mais digital.
O interesse nos carros elétricos é alto, mas a confiança ainda não engrenou
A demanda por elétricos na Europa está em alta e esteve 3x maior no primeiro trimestre de 2024 do que no mesmo período de 2022, de acordo com Ahay Bhatia, CEO da mobile.de, o maior marketplace alemão focado em veículos. Dentre os consumidores europeus, 40% dizem querer comprar um elétrico ou híbrido.
No entanto, nem sempre o que os consumidores dizem querer fazer é o que eles efetivamente fazem. Marketplaces regionais apontaram uma queda de 6% na busca por elétricos. Ou seja, o interesse manifestado pelos consumidores ainda não está se traduzindo em ações reais, e os motivos para isso são bem compreensíveis. Bhatia ressaltou quatro pontos relevantes:
- A preocupação com a autonomia do carro entre uma recarga e outra;
- Incerteza sobre a durabilidade das baterias ao longo dos anos;
- Dúvidas sobre a capilaridade da infraestrutura de carregamento; e
- O preço dos elétricos, que é considerado caro pelos consumidores.
Fato é que mesmo que o custo de um veículo elétrico 0km na Alemanha tenha caído em torno de 20%, o valor ainda está longe da expectativa dos compradores. Quem mais sofre com essa disparidade são os revendedores, que viram os preços de seminovos e usados caírem ainda mais, pressionando a margem de lucro de quem comercializa elétricos de segunda mão.
Década de transição para elétricos também traz jornada mais digital de compra
Os experts defendem que estamos vivemos uma década de transição no cenário automotivo com a descarbonização da indústria. Até 2030, a tecnologia automotiva elétrica tende a evoluir, resolvendo as preocupações com preço e autonomia no curto ou médio prazo. No entanto, é esperado que o consumidor mantenha-se receoso ao longo desse período, temendo defasagem ou desvalorização dos veículos.
Viver essa transição exigirá paciência e resiliência dos profissionais do setor, mas há uma ótica otimista que chamou minha atenção. Junto com a transição para os elétricos há um movimento em direção aos primeiros testes de compra de veículos online.
O que se percebe nas pesquisas é que compradores de carros a combustão ainda não se sentem prontos para comprar automóveis online, mas este receio não é tão latente entre os compradores de elétricos, que manifestam um interesse maior na compra por meios digitais.
A expectativa destes compradores “eletrificados” é que exista um acesso digital a modelos flexíveis de posse de veículos (como o leasing), com jornadas de compra facilitadas, customizadas, com transparência e segurança.
Afinal, se eu busco um produto tecnológico, que tem uma preocupação ambiental, não faz sentido ter burocracias em minha jornada de pagamento ou qualquer outra etapa.
Isso significa que estamos prestes a vivenciar uma importante mudança de comportamento de consumo de automóveis, que vai desde a escolha do produto até a finalização da compra e o recebimento do carro. Quem já atua em marketplaces do segmento automotivo, como os parceiros de autos do grupo OLX, certamente está mais qualificado para lidar com essa mudança.
A boa notícia é que essa transformação do comportamento do consumidor não acontecerá da noite para o dia, mas ao longo dos próximos 5 a 7 anos. É tempo suficiente para se preparar, repensar processos de compra e venda de carros e proporcionar jornadas mais digitais para os consumidores.
Ao que tudo indica, a hora para começar a pensar nisso é agora.

Daniella Correa
Senior Group Product Manager no Grupo OLX, diretamente de Amsterdã, na Holanda

A Equipe OLX é composta por pessoas reais que conhecem e escrevem sobre as diferentes categorias e universos que compõem o Dicas OLX.
