Ao circular pelas ruas de Austin, onde acontece o SXSW, um dos principais festivais de inovação do mundo, é muito fácil “tropeçar” em um veículo elétrico. Pode ser um carro ou um dos muitos patinetes dispostos ao redor da conferência para facilitar os trajetos entre as quase 5 mil sessões de conteúdo que acontecem ao longo dos 9 dias do evento. Nem mesmo a Porsche deixou de trabalhar o assunto, trazendo o seu novo Porsche Macan Elétrico para um espaço de convivência com a marca nos arredores do SXSW.
A locomoção por meio de carros que usam a eletricidade como combustível, contudo, esbarra em uma discussão importante de infraestrutura: será que a matriz energética americana está preparada para lidar com uma crescente frota elétrica? Em discussões ao longo destes dias, notei que os especialistas no assunto elencaram três grandes desafios que ainda precisam ser superados:
- Contar com pontos de recarga em número adequado e distribuí-los de maneira geograficamente inteligente, para evitar a “pane seca” que pode acontecer quando um carro fica sem bateria;
- Otimizar o uso da matriz energética, que hoje acaba sendo acionada de forma concentrada nos mesmos horários (como durante a noite, quando os carros estacionados são geralmente recarregados);
- E, no ponto de vista de cuidados ambientais, a atenção para a produção de energia elétrica de maneira limpa e sustentável para distribuição em larga escala.
Trata-se de um problema complexo, com soluções que não serão feitas por uma única empresa, mas por uma colaboração entre diversos expoentes do mercado. Ou seja, será preciso que montadoras, companhias fornecedoras de energia e empresas de dados, que monitoram o padrão de uso dos carros elétricos, trabalhem juntas em prol de desenvolver melhores práticas para todo o setor.
Telemetria como ponto de partida
Um dos pontos de partida para pensar em soluções para o mercado de carros elétricos deverá vir dos dados. Uma das fontes de informações será a telemetria embarcada, tecnologia que permite monitorar a performance de veículos de maneira precisa e remota. Por meio da leitura destes dados, empresas de monitoria externa, como a WeaveGrid, que esteve presente no SXSW 2024, poderão usá-los para sugerir uma infraestrutura mais adequada, otimizada e inteligente em cada cidade.
Hoje, algumas soluções bastante criativas e eficientes já estão sendo testadas para expandir as alternativas de pontos de recarga. No Reino Unido, por exemplo, a aposta do BT Group tem sido uma espécie de “retrofit” das antigas cabines metálicas de infraestrutura telefônica. Conforme vão ficando obsoletas e abandonadas, elas podem ser convertidas gradualmente em pontos de carregamento elétrico, aproveitando a conexão que estes dispositivos urbanos já têm com a rede de transmissão elétrica.
Já a americana WiTricity traz uma proposta mais revolucionária para o mercado, com a oferta de plataformas de carregamento elétrico sem fio. Basta que os carros elétricos compatíveis com esse formato de carregamento sejam estacionados sobre uma placa especial, que faz o carregamento por indução eletromagnética de maneira ágil e também mais acessível para condutores com mobilidade reduzida.
Com a devida infraestrutura em funcionamento, a “última milha” da adoção dos elétricos dependerá fortemente da conscientização dos motoristas sobre os benefícios deste formato de transporte e de uma política de incentivos e subsídios que possa fazer com que os condutores tenham capacidade de viver a experiência com os veículos elétricos. A expectativa geral é de uma maior sustentabilidade para toda a cadeia automotiva, de ponta a ponta.
Flávio Passos
VP de Autos e Comercial do Grupo OLX
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