Anthony Lewandowski foi um dos primeiros entusiastas do tema de carros autônomos, veículos capazes de se mover sem precisar contar com a assistência de um motorista. Com passagens por grandes empresas como Google e Uber, Anthony esteve à frente dos primeiros movimentos para colocar carros autônomos nas ruas de grandes centros urbanos como São Francisco, na Califórnia, mas o início dessa jornada revolucionária rendeu-lhe apenas processos e fortes críticas.
Diante de tantos feedbacks negativos, muitos teriam abandonado a ideia, mas Anthony decidiu ir por outro caminho. A partir dos aprendizados desenvolvidos ao longo dos anos em que esteve envolvido com projetos de carros autônomos em grandes empresas de tecnologia, o executivo entendeu que talvez o melhor espaço para veículos que “se dirigem sozinhos” não fosse exatamente as ruas das grandes cidades, mas sim trajetos off-road considerados entediantes, perigosos ou sujos.
Foi com essa ideia em mente que ele recalculou sua rota e fez uma mudança estratégica de planos para operar neste segmento, conhecido nos EUA pela sigla DDD (dull, dangerous and dirty), por meio da Pronto.
Em conversa com Max Chafkin, da Bloomberg, Anthony explicou que incluir a tecnologia de direção autônoma em caminhões e maquinário pesado teve muito mais aceitação no mercado, com aplicações tanto nos EUA quanto na América Latina. Hoje, estão em testes retroescavadeiras autônomas em canteiros de obras na Califórnia e também em caminhões do deserto chileno.
Carros autônomos também em centros urbanos
Ainda que a aplicação prática de mais curto prazo dos veículos autônomos seja em cenários menos densos do que as ruas das grandes cidades, a proposta de contar com veículos autônomos para passageiros em centros urbanos segue no horizonte de desenvolvimento da indústria automotiva.
Em sua apresentação no SXSW 2024, a co-CEO da Waymo, Tekedra Mawakana, apresentou com bastante entusiasmo o projeto de expandir a atuação geográfica do Waymo One, carro autônomo que já circula em fase de testes em Los Angeles e deve chegar em breve às cidades de São Francisco, Austin e Phoenix.
Questionada sobre a lenta velocidade dos avanços dos carros autônomos, Tekedra explicou que a empresa tem um forte compromisso com a segurança, além de precisar lidar com toda a regulamentação que envolve o ecossistema de trânsito das grandes cidades. “Quando você está construindo um veículo autônomo, a primeira coisa que ele faz é observar o mundo ao seu redor e tentar seguir as leis de trânsito. Mas a realidade é que os humanos que estão dirigindo ao redor destes carros autônomos não estão seguindo a lei. E realmente pode ser muito frustrante dirigir ao lado de um veículo autônomo que está dirigindo devagar, parando, não está virando à esquerda ou à direita diante de um sinal vermelho, porque isso não é permitido pela lei”, detalhou Tekedra.
Hoje, o grande diferencial da Waymo no mercado é a experiência de direção, que é apoiada em consistência, conforto e segurança para os passageiros. Existem, é claro, questões importantes que ainda precisam ser discutidas, como os dilemas morais dos algoritmos dos carros autônomos para situações de risco extremo ou até do potencial risco de que os carros de empresas como a Waymo venham a causar desemprego de motoristas de aplicativos.
Por mais polêmicas que pudessem ser as perguntas, nenhuma delas tirou a tranquilidade da executiva. Acerca do algoritmo, Tekedra lembrou que ele é construído para não precisar chegar a situações extremas, de forma que dilemas morais não sejam uma questão.
Da mesma forma, deixou claro que é fato que alguns trabalhos vão deixar de existir, mas que a empregabilidade dos motoristas será endereçada por meio de uma transição gradual de modelos de negócio, inclusive com a oportunidade de absorver parte desta mão de obra como “treinadores de robôs” dentro do próprio segmento da tecnologia automotiva. “Nada disso vai acontecer da noite para o dia. Será uma transição lenta, por meio da qual teremos a chance de gerenciar e navegar juntos para entender o que faremos como sociedade”, concluiu a executiva.
Flávio Passos
VP de Autos e Comercial do Grupo OLX
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