Em novembro de 2022, foi realizada a 27ª Confederação das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, para tratar das metas globais e do compromisso dos Estados de reduzir as emissões de poluentes e evitar o aumento da temperatura global, que já surte efeitos em regiões mais suscetíveis às mudanças do clima. E adivinha quem foi palco dos debates? Os biocombustíveis e as alternativas para a mobilidade urbana.
Para entender o tema, é importante ter em vista, inicialmente, dois fatores principais:
- A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê um aumento na temperatura global que pode ser superior a 1,5 ºC até 2027, ultrapassando o que seria considerado um limite seguro.
- A principal deliberação da COP27 foi evitar esse aumento por meio de medidas de substituição de fontes de energia fóssil por renovável – a chamada transição energética global –, o que explica a importância do debate atual em torno dos biocombustíveis.
O Brasil é signatário desses acordos e já começou a avançar em suas políticas de transição energética. Nosso país é um dos mais avançados nesse tema, pois temos:
- alta capacidade de produção de diversos tipos de biocombustíveis;
- políticas que incentivam o consumo de etanol – que emite menos poluentes do que a gasolina –, com o desenvolvimento da tecnologia dos motores flex;
- projetos que propõem aumentar o teor de álcool na gasolina, a fim de ampliar a demanda do biocombustível e diminuir as emissões de carbono (além de conferir mais autonomia de mercado, diminuindo as importações de petróleo, fonte de energia fóssil usada na produção de gasolina).
Por esses três motivos, os biocombustíveis no Brasil são estratégicos para o sucesso do alcance das metas mundiais, possibilitando entregar produtos baseados na agricultura sustentável, que dita a tendência da 6ª onda econômica.
Campo jurídico, agronegócio e cadeia de combustíveis já iniciaram a aplicação de mudanças em prol da economia sustentável. E o setor automotivo? O que tem feito – ou ainda pode fazer – para se adequar à necessária tendência da neutralização do carbono?
Biocombustíveis no Brasil: uma análise para a segunda década do século XXI
Em primeiro lugar, é preciso saber o que são biocombustíveis. São produtos produzidos a partir de matérias-primas inesgotáveis, por sua capacidade de se renovar constantemente, que oferecem energia para o funcionamento de diferentes tipos de motores. Portanto, os biocombustíveis são renováveis.
Assim, vale destacar quais são as fontes de produção dos biocombustíveis no Brasil:
- cana-de-açúcar e milho, para a produção de etanol e biogás, sendo este último um dos subprodutos do processamento industrial para obtenção de etanol de cana, que deve ser mais amplamente aproveitado na consolidação de uma cadeia produtiva realmente sustentável (sem desperdícios!);
- soja, para a produção de biodiesel a partir de óleo vegetal.
Por sua extensão de terras agricultáveis e clima favorável, o Brasil é uma potência agrícola mundial. Maior produtor de soja do mundo e maior produtor global de cana-de-açúcar, sendo também um expoente na produção de milho, o país vem adaptando as práticas nas lavouras, as tecnologias de processamento nas usinas, as políticas energéticas e de mobilidade urbana, e a produção de automóveis para se tornar um protagonista da transição energética.
Tudo isso já está em curso! As principais medidas sobre biocombustíveis no Brasil serão discutidas brevemente a seguir.
O aumento do teor de álcool na gasolina e seus impactos na transição energética
Atualmente no Brasil, já é prevista em lei a gasolina E27, com 27% de etanol em sua composição, um teor bastante superior ao que se verifica em países estrangeiros, que normalmente comercializam gasolina E10. Há uma proposta em análise para que o teor de álcool na gasolina aumente para 30%.
Vários fatores motivam essa mudança, todos visando a transição energética global e a economia sustentável:
- aumentar a demanda por etanol;
- diminuir o consumo de combustível fóssil;
- diminuir a emissão de carbono na atmosfera;
- incentivar a produção e o consumo de biocombustíveis.
Para isso ser possível, o mercado automotivo brasileiro vem gradualmente atualizando as tecnologias e substituindo a frota de automóveis por veículos com motorização que têm boa resposta à gasolina com alto teor de etanol. O motor flex foi criado no Brasil exatamente como uma forma de aumentar o uso de biocombustíveis sem interferir na performance.
São motores que suportam tanto gasolina quanto etanol, funcionando normalmente com gasolina E30. Grande parte da frota brasileira atual tem a tecnologia flex, o que possibilitou melhoria na qualidade do ar de grandes centros urbanos pela diminuição da emissão de gases na última década.
Para o futuro, a gasolina E30 pode diminuir o consumo de combustível fóssil e as importações – o que confere mais autonomia para o país – e evitar a emissão de 2,8 milhões de toneladas de CO2 anualmente! Isso sim é um bom plano de transição energética!
Incentivo ao consumo de etanol, biodiesel e biogás
Além do aumento do teor de álcool na gasolina, há outros meios de evitar o consumo de combustível fóssil com a substituição por biocombustíveis no Brasil:
- Ampliar a produção de etanol de cana e milho: o aumento da oferta permite reduzir os preços nas bombas, tornando o biocombustível mais competitivo frente à gasolina, o que favorece que o consumidor final prefira o uso de álcool.
- Otimizar a produção de biodiesel: a melhoria nos processos de produção do biodiesel de soja visa induzir a preferência pelo biocombustível, tornando o diesel proveniente do petróleo cada vez menos interessante à indústria e ao mercado.
- Promover o acesso ao biogás: a otimização do processamento industrial da cana-de-açúcar para uma cadeia produtiva que seja carbono neutro almeja também o aumento da produção do biogás, mas é preciso que haja demanda. Portanto, o melhoramento e o barateamento dessas tecnologias automotivas caminham junto à expansão da produção e da oferta.
Todas essas medidas já estão influenciando o setor automotivo brasileiro, com o objetivo de entregar cada vez mais energia limpa no mercado.
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Carros elétricos e híbridos contribuem para o alcance das metas de sustentabilidade no Brasil?
Como vimos, os bicombustíveis são a chave para que o Brasil atinja as metas estabelecidas na COP27. Essa é uma maneira de frear as mudanças climáticas que colocam em risco a vida na Terra, com efeitos positivos não só para o nosso país, mas em escala global.
Há muitas outras nações comprometidas com a meta de reduzir as emissões de poluentes em 50% até 2030 e em 100% até 2050. Para elas, o principal investimento tem sido em carros elétricos e híbridos, tema de grande destaque nos principais eventos internacionais do setor automotivo.
O diferencial brasileiro, que o torna protagonista da transição energética global, é que o foco nos biocombustíveis não tira a importância da eletrificação. Estamos investindo nos dois! Algo que chega a ser inviável para países que não têm amplo acesso a biocombustíveis de qualidade.
Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito, de 2015 a 2023, a frota brasileira de carros com alguma tecnologia de eletrificação aumentou 40 vezes. Nos últimos 3 anos, esse número triplicou. A maioria dos veículos é híbrida, o que é uma mão na roda para o país que produz mais etanol no mundo: os híbridos flex têm o selo brasileiro e tendem a marcar a evolução do setor em direção à sustentabilidade.
Quantidade de carros híbridos e elétricos na frota nacional (acumulado). Fonte: Quatro Rodas, 2023.
Quanto à eletrificação, o processo no Brasil só começou e está em vias de se expandir ainda mais no futuro próximo. Foi anunciada a instalação de três fábricas da chinesa BYD, a maior fabricante de carros elétricos do mundo!
As unidades, que representam as primeiras em todo o continente americano, serão instaladas na Bahia, colocando o Brasil à frente dessas inovações para o mercado automotivo.
Com previsão de iniciar a produção no segundo semestre de 2024, as fábricas abastecerão toda a América Latina com caminhões elétricos e veículos leves elétricos e híbridos. Tal oferta será um estímulo para melhorar a infraestrutura de recarga desses veículos e para focar na combinação da eletrificação e da tecnologia flex.
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A potência do Brasil como país do futuro está no setor automotivo
A transição energética aqui parece mais simples e mais avançada do que em outros países. Primeiro, porque não é de hoje que optamos por usar os produtos agrícolas que vêm de nossas lavouras ao invés do petróleo importado, de maneira que o Brasil está bem adaptado aos biocombustíveis, devendo apenas ampliar e melhorar suas estratégias.
Segundo, porque não precisamos nos preocupar com matéria-prima e tecnologia, já temos tudo em mãos, a cana, o milho, a soja, as usinas para processá-las e os automóveis com a tecnologia certa para usá-las. O que falta é mais conscientização da população e uma investida mais incisiva no mercado para substituir substancialmente os veículos movidos à combustível não renovável em circulação.
Com biocombustíveis e veículos elétricos à disposição, o setor automotivo brasileiro pode ter vantagem para surfar na nova onda econômica que está atingindo o mundo nesta segunda década do século XXI.
Às revendedoras e concessionárias, resta acelerar sua adequação a essas tendências, conhecer seus benefícios e comunicar ao consumidor essas perspectivas, a fim de estar um passo à frente quando for dada a largada dessa nova era. Por enquanto, ainda estamos nas etapas preliminares, essenciais para uma aplicação consciente e estratégica das mudanças.
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